sexta-feira, 26 de abril de 2013

A abelha Jandaíra e o pé de Manga


Outro dia, durante minhas visitas de rotina ao meliponário, verifiquei um fato curioso, ou melhor, antes nunca visto. Nem o companheiro Tita havia presenciado em época alguma tal fato, haja vista, que o mesmo vivencia a lida com as Jandaíras desde menino, no “tempo de seus avós”!

(Figura 1 – Florada da mangueira)

Percebemos que a Jandaíra encontrava-se apaixonada pelo pé de Manga. Vimos que a abelhinha alada estava visitando com muita frequência o pé de Manga. Tratava-se de um verdadeiro caso de afinidade, de comunhão, de parceria, de amor... Isso é o que a natureza, sábia, promove: caso de amor entre os seres. Exceto o bicho homem, que pode-se afirmar que é o irracional da história.

Além da busca incessante por alimentos nesse longo período de estiagem, a Jandaíra estava recorrendo a outros recursos no pé de Menga.

(Figura 2 – Vedação das frestas)

Como podemos notar na imagem acima a Jandaíra estava utilizando os resquícios florais para vedação das frestas existentes no cortiço

(Figura 3 – Elemento de construção do ninho)

Vimos também, que a Jandaíra estava utilizando o leite da manga como elemento de construção do ninho. Pude acreditar, pois sem saber que elemento era aquele, levei até a boca um cristalzinho destes (Figura 3) e o sabor era semelhante. Depois o Tita me falou que havia presenciado uma Jandaíra coletando o material.

(Figura 4 - Cristaizinhos)

Conversando com o Tita sobre o por quê, acreditamos ser a escassez de resina vegetal diante da seca. Observamos isso nas abelhas recém transferidas ou em novas famílias. 


Um grande abraço,

São Paulo do Potengi/RN, em 26 de abril de 2013.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes
  

Entrada natural da abelha Jandaíra


(Figura 1 – Entrada de Abelha Jandaíra em Imburana)

Um dos aspectos pertinentes à estrutura do ninho das abelhas sem ferrão refere-se a entrada. A forma como estas abelhas confeccionam a entrada é característica de cada espécie e pode auxiliar na sua identificação.

Algumas espécies utilizam como elemento de construção o barro que, é comumente encontrado nos ninhos de abelhas pertencentes ao gênero Melipona, como no caso da Jandaíra.

(Figura 2 - Entrada de Abelha Jandaíra em Pereiro)

A entrada é responsável por permitir a ligação do meio externo com o interior do ninho, é por este orifício que as abelhas saem para a realização das atividades de campo, seja esta, coleta de resina, alimento, barro, água, etc.

(Figura 3 - Entrada de Abelha Jandaíra em Jurema Branca)

A entrada das abelhas Jandaíras é preparada em barro, podendo, inclusive, ser adornada com excrementos de animais ou mesmo com resquícios florais.

(Figura 4 - Entrada de Abelha Jandaíra em Imburana)

A entrada (senso comum) também pode identificar se a Jandaíra está bem forte (com boa capacidade de crias, campeiras e provisões), pois a ornamentação da entrada constitui em uma atividade extra, quando não há tarefas a serem realizadas no interior do ninho elas disponibilizam algum tempo para tais afazeres.

(Figura 5 - Entrada de Abelha Jandaíra em Catingueira)


A entrada que permite a passagem de apenas uma abelha de cada vez, além da estrutura externa, possui ainda, em sua parte interna um complemento formado por um túnel de acesso que desemboca na área das crias. Este túnel limita o espaço, possibilitando as abelhas o controle de inimigos que por ventura ultrapassem a sentinela.

(Figura 6 - Entrada de Abelha Jandaíra em Quixabeira)    


Um grande abraço,
São Paulo do Potengi/RN, em 26 de abril de 2013.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

quarta-feira, 10 de abril de 2013

(Re) Pensando o conceito de sustentabilidade na Meliponicultura


Um dos adjetivos mais comuns atribuídos à Meliponicultura, diz-se do termo sustentável. Mas, será que a Meliponicultura é realmente sustentável? (Pensemos???) – Eu diria que depende de uma sucessão de fatores que, vão desde a forma como a praticamos até os processos burocráticos que, muitas vezes, constituem um verdadeiro entrave para o desenvolvimento da atividade.

Só para nos situarmos um pouco sobre tal conceito, irei descrever um pequeno trecho do meu Trabalho de Conclusão de Curso que aborda, justamente, a problemática da sustentabilidade:

“A Comissão Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente, sendo esta formada em 1984 pela Organização das Nações Unidas – ONU propôs, em fins da década de 1980, a compreensão acerca do desenvolvimento sustentável no que se refere aos aspectos conceituais. A referida Comissão aprofundou seus estudos na problemática cada vez mais evidente das questões ambientais e, também, direcionou seu olhar para as necessidades das nações em desenvolvimento. Em seu relatório conclusivo intitulado “Nosso Futuro Comum” a Comissão caracterizou o Desenvolvimento Sustentável como sendo uma forma de “Atender as necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades” (BRAGA, 2000)”.

Nessa perspectiva, cabe uma série de indagações:

1 - O meliponicultor que adquire enxames de meleiros (pessoa que retira as abelhas de seu habitat natural)?

2 - O meliponicultor que comercializa estes enxames para outros Estados, muitas vezes, para fora da sua região natural de ocorrência?

(Figura 1 – Meliponário recém estabelecido com ninhos naturais de Jandaíras, oriundos de desmatamento)

3 - Desta forma, um dia proporcionaremos as gerações vindouras, a oportunidade de conhecer a nossa Jandaíra no seu ambiente?

(Figura 2 – Meliponário rústico, em sua maioria com troncos habitados por Jandaíras)

4 - Nós meliponicultores sabemos que a utilização das abelhas silvestres nativas é regulamentada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, através da resolução nº 346, de 17 de agosto de 2004”... Somos legalizados? Adquirimos enxames apenas de criadores legalizados? Os órgãos competentes facilitam o processo de regulamentação?

Enfim, estas são algumas das práticas empoderadas por nós, as quais possamos refletir se a Meliponicultura que praticamos é realmente sustentável.

Temos a certeza que o trabalho incansável realizado pelas nossas abelhas nativas, quando da realização da polinização, aí sim podemos classificar de sustentável.  


Um grande abraço,
São Paulo do Potengi/RN, em 10 de abril de 2013.

João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes