terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Caixas de argila para abelha Cupira (Partamona seridoenses)

Algo que está se tornando meio repetitivo em nossas postagens, é mencionar que, era comum nos tempos de criança ouvir meu avô falar em abelhas, mas, acredito ser necessário na medida em que nossos anseios são impulsionados, de certa forma, por tais prerrogativas, ou seja, um dos nossos objetivos quando do início na atividade (Meliponicultura) era, justamente resgatar algumas espécies de abelhas nativas que meu avô tanto falava “encontrava-se bastante abelhas, até mesmo, nos arredores de casa”. Estas palavras são ditas até hoje pelo meu avô, e soam aflição, tristeza por não mais poder vê-las como antigamente.

O desaparecimento de algumas espécies de abelhas nativas de nossa região é resultado de uma agremiação de fatores que, acredito está imerso na cultura do homem do campo, algo que parece está arraigado desde o período da colonização. Como por exemplo, nos dias de hoje em que predomina a utilização de práticas agricultáveis agroecológicas, é bastante comum vermos na implantação de um roçado: desmatamento, queimadas, destoca, aração, implantação da cultura, agrotóxicos e aí por diante. Agora imaginem só há poucas décadas atrás, imensas áreas foram destinadas para o cultivo do algodão em nosso Estado, frente a todo esse processo acima mencionado estas áreas encontram-se hoje, em sua maioria, degradadas, quando não em processo de desertificação, ou mesmo, desertificadas.

Outros aspectos associam-se a isso, dificilmente uma pessoa na zona rural encontra uma abelha nativa, seja ela Mosquito, Rajada ou Jandaíra para não ir lá e cortá-la. Alguns levam o cortiço para casa, outros imbuídos numa ideia errônea retiram a abelha e simplesmente a abandona acreditando que esta poderá formar uma nova morada. Mas como, se quase não existe mais moradia para elas? As árvores de grande porte, em sua maioria já foram cortadas. É aí onde reside a questão cultural, essa prática vem se arrastando há gerações, o uso da cera, do saburá (pólen) do mel dessas abelhas são largamente utilizados pela medicina popular, o que torna as abelhas nativas vulneráveis e presas fáceis dos caçadores de abelhas (meleiros).
         
Distante de qualquer tentativa de culpabilizar o rurícola pelo desaparecimento de algumas espécies de abelhas. Muitas vezes, nesse vasto Nordeste as políticas públicas são mal direcionadas, isso quando existe. O homem do campo, aquele das mais longínquas regiões, onde a assistência de qualquer instância passa por longe. Esse, necessariamente tem que se valer do que o ambiente lhe oferece: é um preá, um tejo, um peba, um gato do mato, um mocó, é o mel da abelha, enfim. Temos que responsabilizá-los? De forma alguma!

Mas isto foge do nosso foco de discussão, enveredamos por estes campos, pois a abelha Cupira (Partamona seridoenses) integra a lista das abelhas que hoje não existe mais nas proximidades de onde meu avô reside, diferente de outrora que facilmente as encontrava. A Cupira é uma das abelhas que mais meu avô estima, sempre lembra que, era uma abelha pretinha, populosa porém valente, de um mel suave, bastante procurado por suas reconhecidas propriedades terapêuticas, enfim.
                     
Já há algum tempo venho buscando junto aos colegas meliponicultores adquirir a abelha Cupira. Mas antes de conseguir reintroduzi-la, mesmo que poucos exemplares e em caixa racional, lá no sítio do meu avô, andei pesquisando a melhor forma de mantê-la por lá. Pensei na possibilidade de acondicioná-las em panelas de barro ou em filtros de barro, - ora, estas abelhas não nidificam naturalmente em ocos de árvores, então estive martelando: - segundo relatos de alguns meliponicultores esta abelha quando passada para uma caixa racional de madeira geralmente não ultrapassa o primeiro ano, dessa forma, a caixa influi positivamente nesse processo, nada melhor do que, primeiro, experimentar algo que seja confeccionado em barro.

Há alguns dias atrás verifiquei no blog do Léo Pinho (Granja Pouso Alegre) a fabricação de caixas de argila para a acomodação de abelhas como a Uruçu nordestina, sendo assim, peguei o modelo e pedi para o pessoal que trabalha aqui em “minha” cidade com artesanato feito em barro fabricar as caixas, haja vista que o amigo Obede Silva do Meliponário Mato Grande vai me ceder duas Cupiras. Sendo assim, estou nos preparos e aguardando ansiosamente.

(Figura 1 - Modelo de caixa para Cupira, últimos reparos antes de ir para o forno )

(Figura 2 - Ninho)

(Figura 3 - Sobreninho)

(Figura 4 - Tampa)

(Figura 5 - Pessoal que trabalha na confecção das peças de barro)

(Figura 6 - Luminárias e tigelas )

(Figura 7 - Representação da mulher sertaneja)

(Figura 8 - Vasos)

(Figura 9 - Modelo de peça indígena)

(Figura 10 - Tanques para armazenamento da argila)

(Figura 11 - Forno)

      (Figura 12 - Utilização de torno elétrico para a fabricação das peças)

              (Figura 13 - Dona Sarafina mostrando sua primeira peça)

                   (Figura 14 - Vasos para a colocação de plantas)

                                 (Figura 15 - Banner do curso)

Em breve estaremos postando os resultados da experiência com os novos modelos de caixas, no que diz respeito a aclimatação das abelhas Cupiras nas caixas de argila.  

Um grande abraço,

São Paulo do Potengi/RN, em 10 de janeiro de 2012


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Calendário de floradas 2

Em postagem (Calendário de floradas 1) mostrada em 21 de julho de 2011 registramos, de forma sucinta, as principais floradas em que as abelhas nativas, em especial a Jandaíra, busca na procura por alimento.

Calendário de floradas 2 apresenta a mesma configuração, onde aparecem o nome popular, o científico, o início, o término (mês), assim como o ano em que ocorreram as floradas. E, desta vez, traz, não todas as floradas visitadas pelas Jandaíras, mas as que conseguimos, em nosso trabalho de campo, observar.

É importante destacar o período (mês e ano) em que ocorreram as floradas, pois aqui em nossa região (semi-árida) estas ocorrem, principalmente, em função dos fatores climáticos. Estes por sua vez, são distinguidos em dois: o período das chuvas, comumente caracterizado pela cultura popular de inverno e o período de estiagem, denominado de seca. Daí a importância de se registrar, pois é comum em anos em que a ocorrência de chuvas é limitada acontecer de algumas plantas não apresentarem suas inflorescências.

Este ano de 2011, como diria o sertanejo – foi um ano bom de inverno: bom para a agricultura, formação de pastagens e, principalmente, para as abelhas. Em se tratando de floração houve plantas, no caso da Catingueira, o Jucá, a Jurema, dentre outras que floresceram mais de uma vez. Se bem que, para uma planta florescer não é necessário apenas fator umidade e sim, há a participação de outros elementos, como por exemplo: condições de solo, incidência de luz, enfim, deixaremos essa discussão para a Agronomia. Muito embora, tenhamos sido agraciados com um ano bom de inverno, algumas plantas não floriram, como é caso do Cumaru, Barriguda, etc. Fato este não temos propriedade para discorrer, mas, uma explicação simplória e ignorante, seria uma estratégia da planta, tendo em vista, a ação de tais fatores: umidade, condições nutricionais, solo e luz.

A seguir lista-se as floradas as quais observamos ao longo dos meses de julho a dezembro, amparados,como já mencionamos na bibliografia do saudoso Monsenhor Huberto Bruenig - grande mestre que, deixou seus ensinamentos para a posteridade em seu livro intitulado A ABELHA JANDAÍRA.

Observamos também a visita da abelha Jandaíra em algumas flores as quais não foram mencionadas na obra, mas serão destacadas adiante, como é o caso da Craibeira, Amarra-cachoro, Trapiazeiro e João-mole.

Obs.: As floradas aqui elencadas não representam todas as contidas na obra – A ABELHA JANDAÍRA, nem muito menos a maioria. Estas foram apenas as que conseguimos observar e fotografar. Existe neste bioma chamado Caatinga uma imensidão de plantas, muitas das quais não sabemos nem o nome e que, também, são polinizadas pelas Jandaíras.  




CALENDÁRIO DE FLORADAS
Nome Popular
Nome Científico
Início
Término
Ano
Amarra-cachorro
Bromelia sp
Jun.
Ago.
2011
Pau-d’arco rosa
Tabebuia spp.
Ago.
Set.
2011
Jurema
Mimosa spp.
Ago.
Ago.
2011
Algaroba
Prosopis juliflora
Set.
Nov.
2011
Quixabeira
Brumelia sartorum
Set.
Out.
2011
Cajueiro
Anacardium occidentale
Set.
Out.
2011
Mangueira
Mangifera indica
Set.
Nov.
2011
Imbuzeiro
Spondias tuberosa
Out.
Dez.
2011
Mulungu
Erythrina velutina
Out.
Nov.
2011
Juazeiro
Ziziphus joazeiro
Nov.
Dez.
2011
Craibeira
Tabebuia caraiba
Nov.
Dez.
2011
Aroeira
Astronium urundeuva
Nov.
Dez.
2011
Azeitona preta
Syzygium jambolana
Nov.
Dez.
2011
Ameixa
Ximenia americana
Nov.
Dez.
2011
João-mole

Nov.
Dez.
2011
Anjico
Anadenanthera macrocarpa
Nov.
Dez.
2011
Feijão-brabo
Capparis cyanophallophora
Nov.
Nov.
2011
Pereiro
Aspidosperma pyrifolium
Dez.
Dez.
2011
Trapiazeiro
Crataeva tapiá
Dez.
Jan.
2011

(Figura 1 - Amarra-cachorro)

(Figura 2 - Pau-d’arco rosa)

(Figura 3 - Jurema)

(Figura 4 - Algaroba)

(Figura 5 - Quixabeira)

(Figura 6 - Cajueiro)

(Figura 7 - Mangueira)

(Figura 8 - Imbuzeiro)

(Figura 9 - Mulungu)

(Figura 10 - Juazeiro)

(Figura 11 - Craibeira)

(Figura 12 - Aroeira)

(Figura 13 - Azeitona preta)

(Figura 14 - Ameixa)

(Figura 15 - João-mole)

(Figura 16 - Anjico)

(Figura 17 - Feijão-brabo)

(Figura 18 - Pereiro)

(Figura 19 - Trapiazeiro)

(Figura 20 - Desconhecida)


Um grande abraço,


São Paulo do Potengi/RN, em 03 de janeiro de 2012.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes