Algo que está se tornando meio repetitivo em nossas postagens, é mencionar que, era comum nos tempos de criança ouvir meu avô falar em abelhas, mas, acredito ser necessário na medida em que nossos anseios são impulsionados, de certa forma, por tais prerrogativas, ou seja, um dos nossos objetivos quando do início na atividade (Meliponicultura) era, justamente resgatar algumas espécies de abelhas nativas que meu avô tanto falava “encontrava-se bastante abelhas, até mesmo, nos arredores de casa”. Estas palavras são ditas até hoje pelo meu avô, e soam aflição, tristeza por não mais poder vê-las como antigamente.
O desaparecimento de algumas espécies de abelhas nativas de nossa região é resultado de uma agremiação de fatores que, acredito está imerso na cultura do homem do campo, algo que parece está arraigado desde o período da colonização. Como por exemplo, nos dias de hoje em que predomina a utilização de práticas agricultáveis agroecológicas, é bastante comum vermos na implantação de um roçado: desmatamento, queimadas, destoca, aração, implantação da cultura, agrotóxicos e aí por diante. Agora imaginem só há poucas décadas atrás, imensas áreas foram destinadas para o cultivo do algodão em nosso Estado, frente a todo esse processo acima mencionado estas áreas encontram-se hoje, em sua maioria, degradadas, quando não em processo de desertificação, ou mesmo, desertificadas.
Outros aspectos associam-se a isso, dificilmente uma pessoa na zona rural encontra uma abelha nativa, seja ela Mosquito, Rajada ou Jandaíra para não ir lá e cortá-la. Alguns levam o cortiço para casa, outros imbuídos numa ideia errônea retiram a abelha e simplesmente a abandona acreditando que esta poderá formar uma nova morada. Mas como, se quase não existe mais moradia para elas? As árvores de grande porte, em sua maioria já foram cortadas. É aí onde reside a questão cultural, essa prática vem se arrastando há gerações, o uso da cera, do saburá (pólen) do mel dessas abelhas são largamente utilizados pela medicina popular, o que torna as abelhas nativas vulneráveis e presas fáceis dos caçadores de abelhas (meleiros).
Distante de qualquer tentativa de culpabilizar o rurícola pelo desaparecimento de algumas espécies de abelhas. Muitas vezes, nesse vasto Nordeste as políticas públicas são mal direcionadas, isso quando existe. O homem do campo, aquele das mais longínquas regiões, onde a assistência de qualquer instância passa por longe. Esse, necessariamente tem que se valer do que o ambiente lhe oferece: é um preá, um tejo, um peba, um gato do mato, um mocó, é o mel da abelha, enfim. Temos que responsabilizá-los? De forma alguma!
Mas isto foge do nosso foco de discussão, enveredamos por estes campos, pois a abelha Cupira (Partamona seridoenses) integra a lista das abelhas que hoje não existe mais nas proximidades de onde meu avô reside, diferente de outrora que facilmente as encontrava. A Cupira é uma das abelhas que mais meu avô estima, sempre lembra que, era uma abelha pretinha, populosa porém valente, de um mel suave, bastante procurado por suas reconhecidas propriedades terapêuticas, enfim.
Já há algum tempo venho buscando junto aos colegas meliponicultores adquirir a abelha Cupira. Mas antes de conseguir reintroduzi-la, mesmo que poucos exemplares e em caixa racional, lá no sítio do meu avô, andei pesquisando a melhor forma de mantê-la por lá. Pensei na possibilidade de acondicioná-las em panelas de barro ou em filtros de barro, - ora, estas abelhas não nidificam naturalmente em ocos de árvores, então estive martelando: - segundo relatos de alguns meliponicultores esta abelha quando passada para uma caixa racional de madeira geralmente não ultrapassa o primeiro ano, dessa forma, a caixa influi positivamente nesse processo, nada melhor do que, primeiro, experimentar algo que seja confeccionado em barro.
Há alguns dias atrás verifiquei no blog do Léo Pinho (Granja Pouso Alegre) a fabricação de caixas de argila para a acomodação de abelhas como a Uruçu nordestina, sendo assim, peguei o modelo e pedi para o pessoal que trabalha aqui em “minha” cidade com artesanato feito em barro fabricar as caixas, haja vista que o amigo Obede Silva do Meliponário Mato Grande vai me ceder duas Cupiras. Sendo assim, estou nos preparos e aguardando ansiosamente.
(Figura 1 - Modelo de caixa para Cupira, últimos reparos antes de ir para o forno )
(Figura 2 - Ninho)
(Figura 3 - Sobreninho)
(Figura 4 - Tampa)
(Figura 5 - Pessoal que trabalha na confecção das peças de barro)
(Figura 6 - Luminárias e tigelas )
(Figura 7 - Representação da mulher sertaneja)
(Figura 8 - Vasos)
(Figura 9 - Modelo de peça indígena)
(Figura 10 - Tanques para armazenamento da argila)
(Figura 11 - Forno)
(Figura 12 - Utilização de torno elétrico para a fabricação das peças)
(Figura 13 - Dona Sarafina mostrando sua primeira peça)
(Figura 14 - Vasos para a colocação de plantas)
(Figura 15 - Banner do curso)
Em breve estaremos postando os resultados da experiência com os novos modelos de caixas, no que diz respeito a aclimatação das abelhas Cupiras nas caixas de argila.
Um grande abraço,
São Paulo do Potengi/RN, em 10 de janeiro de 2012
João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes