sexta-feira, 13 de abril de 2012

Será que até as Jandaíras se equivocaram com as previsões de chuva?

(Figura 1 – Período da seca no Sertão)

(Figura 2 – Floração da Aroeira em plena seca, as abelhas adoram!)

Quando a chuva chega aqui no sertão nordestino anuncia o tempo das bonanças para o homem do campo, mas o maior espetáculo fica por conta da natureza. Com o início da temporada de chuvas, melhor dizendo, do inverno a Caatinga, denominada de floresta branca, sendo assim chamada em virtude de sua tonalidade acinzentada, o que nos faz acreditar na impossibilidade de que algum ser possa habitar um lugar tão inóspito, se renova e se reveste de esperança e de vida.

(Figura 3 – Serra de Barcelona/RN)

Em poucos dias após as primeiras chuvas já é possível perceber a Caatinga em seu novo traje.

Uma situação bastante comum, que foi batizada pelo saudoso Monsenhor Huberto Bruening – ‘grande mestre destas abelhas’ por “Forró-bodó das Jandaíras”. Trata-se de uma aglomeração, geralmente localizada no beiral do meliponário, que denuncia o período da enxameação.

(Figura 4 - Forró-bodó das Jandaíras no mês de janeiro)

Antes de descrever o meu pensamento acerca deste processo, já vou me desculpando dos caros leitores se estiver cometendo algum equívoco nesta linha de raciocínio. Perdoem minha ignorância, é apenas um ponto de vista sem nenhum embasamento teórico, enfim.

A enxameação é o processo pelo qual a colônia é desagregada, parte desta irá formar outro ninho em algum lugar, isso ocorre tanto nas Apis quanto nos Meliponíneos, só que de forma diferenciada. Podemos compreender melhor este processo em: (Nogueira-Neto. Vida e criação de abelhas indígenas sem ferrão. Capítulo 7 – Algumas capacidades e atividades básicas / Tópico: A enxameação).

Temos, de fato, percebido o processo de enxameação nas Jandaíras em anos de ocorrência de boa precipitação pluviométrica, ou seja, em um ano em que as chuvas atinjam, pelo menos, a média anual que, aqui em nossa região é de 500 a 600 milímetros. Por exemplo, no ano de 2010 em que registramos uma das maiores secas dos últimos tempos, as abelhas Jandaíras não enxamearam, pelo menos aqui. Isso nos leva a crer, de acordo com a sabedoria popular (meliponicultores “antigos”) que, a natureza é sábia e as Jandaíras também. Acredito que em um ano de seca intensa as Jandaíras não enxameariam por não terem recursos alimentícios disponíveis em quantidade suficiente para a sua sobrevivência, exceto sob condições de alimentação artificial em que as abelhas crescem consideravelmente, porém, estamos tratando de condições naturais, muito embora, a filha (o ninho recém formado) mantenha relação direta com a mãe durante alguns dias, até meses, valendo-se de pólen, mel e própolis (resinas).

Só que as nossas “garotas”, ao cair às primeiras chuvas no mês de janeiro vieram rapidamente algumas floradas, elas trabalhavam intensivamente e enxamearam.

(Figura 5 – Registro da primeira chuva do ano)

O prenúncio de um ano bom de inverno.

(Figura 6 – Os pássaros vão se aninhando)

(Figura 7 – O Camaleão já fez postura)

(Figura 8 – O Mico contente)

Primeiras floradas.

(Figura 9 – Mancambira)

(Figura 10 – Velame)

(Figura 11 – Lã de seda)

(Figura 12 – Catingueira)

Não há nada de equívoco por parte das Jandaíras, o homem é que comete esse tipo de engano com conclusões precipitadas acerca das obras do criador. Desde o início do ano que escutamos na mídia que este ano o agricultor não teria razão para preocupações, pois as safras do milho e do feijão estariam asseguradas. Só que a realidade não é bem essa, já são 139 dos 167 municípios do Estado em situação de emergência por causa dos agravantes da seca (tema de nossa próxima postagem).

Já registramos perca em torno de 60% em nosso apiário, acreditamos ser a temperatura elevada.

(Figura 13 – Apiário Ferreira sofre com o abandono das colmeias)

Estamos conseguindo manter as abelhas nativas com muito esforço e alimentação artificial.

(Figura 14 – Alimentação artificial das Jandaíras)


Um grande abraço,

São Paulo do Potengi/RN, em 14 de abril de 2012.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

                          

2 comentários:

  1. Amigo João Paulo,
    bela postagem...

    Aqui na paraíba,estamos assando por uma das maiores secas das últimas décadas...E infelizmente,os animas não estão resistindo a falta de alimento e morrem...

    Lá no meu cariri,as jandaíras estão sentindo os efeitos desse terrível seca,e tenho que ter um cuidado redobrado com elas...

    Realmente,em nossa região,os criadores de gado,estão desesperados...

    Abração e espero que a chuva chegue,para animar os nossos corações.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.

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  2. Amigo Paulo Romero,

    A realidade aqui no RN não está diferente, muitas cidades do interior já estão sendo abastecidas com com caminhões pipa, os agricultores já perderam suas lavouras, os pequenos pecuaristas já esgotaram os últimos recursos, alguns municípios se encontram em situação de calamidade pública, muito embora as autoridades políticas tentem de alguma forma esconder esse dilema e as nossas abelhinhas você já sabe como agente fica nessa situação.

    Amigo Paulo Romero, um forte abraço, muito obrigado mais uma vez pelas observações sempre pertinentes e não vamos perder as esperanças de que dias melhores virão assim como as chuvas.

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