Dentre
os inúmeros fatores que acometem a região Nordeste, a seca pode ser apontada
como um dos principais. Além de ser atribuída à adversidade climática, trata-se
de uma circunstância que desencadeia objeções sociais para as pessoas que
habitam a região. Esta, diz respeito a
um fenômeno natural caracterizado pelo atraso na precipitação de chuvas ou a
sua distribuição de forma irregular.
A falta de água torna-se um
agravante, na medida em que inviabiliza atividades como a agricultura e/ou
agropecuária. Sendo assim, a escassez de chuvas ocasiona, sobretudo, a carência
de recursos econômicos gerando fome e miséria no sertão nordestino, uma vez
que, significativo contingente populacional que habita a região, vive
verdadeiramente em condições de pobreza extrema.
(Figura
1 - Por onde as políticas passam despercebidas)
A seca
pode ser compreendida a partir de aspectos diferenciados, a depender do índice
de precipitações pluviométricas. Ou seja, quando a quantidade de chuvas durante
o ano não é suficiente para o desenvolvimento das plantações, esta pode ser
considerada Seca Absoluta.
Por outro lado, quando as chuvas são suficientes apenas para revestir de folhas
a vegetação da Caatinga, ou mesmo, acumular pequena quantidade de água nos
reservatórios, mas não favorecem a normalidade das lavouras, estamos falando de
Seca Verde.
(Figura
2 - Seca absoluta)
(Figura 3 - Seca verde)
É
bastante comum associarmos seca a fenômenos climáticos. Pode-se afirmar que
esta concepção encontra-se, hoje, reformulada, pois já existem mecanismos
tecnológicos capazes de garantir o sucesso de atividades agropecuárias em
regiões de clima semiárido. Portanto, parte-se da premissa que a seca no
Nordeste brasileiro não constitui um problema da atualidade. Já dizia D. Pedro
II, último monarca do Império do Brasil em fins do século XIX que “empenharia
até a última joia de sua coroa para que nenhum nordestino morresse em
decorrência dos agravantes da seca”. Nessa perspectiva, a seca aqui na região
Nordeste envolve fatores não apenas climáticos, mas também, sócio-políticos.
(Figura 4 - Imagem meramente ilustrativa)
Corroborando
com esse pensamento, vejamos: o Nordeste possui o maior volume de água
represada em regiões semiáridas do mundo. Estima-se em 37 bilhões de metros
cúbicos, estocados em cerca de 70 mil represas. Por que é que grande parte da
população menos favorecida do Nordeste brasileiro não tem acesso a água se ela
existe?
(Figura 5 - Barragem Campo Grande em São Paulo do Potengi no período das chuvas)
Mas
existe também a inoperância de políticas eficazes de distribuição desses
volumes, que atenda as necessidades básicas dos nordestinos, por sua vez,
permanecendo à mercê de ações públicas assistencialistas que, muitas vezes, não
fornecem as bases para condições de desenvolvimento nessa região.
(Figura 6 - Cacimbas feitas nos leitos dos rios para se ter acesso a água)
Dados da seca no Rio Grande do Norte
- A mais longa seca em décadas (avalia-se a maior dos últimos 50 ou 60 anos);
(Figura 7 - Cenário desolador da seca)
- 500 mil pessoas afetadas com a falta d’água;
(Figura 8 - Caminho percorrido pelo nordestino em busca de água)
- 86% dos municípios estão em situação de emergência;
(Figura 9 - A trágica realidade da maioria dos municípios afetados pela seca)
- Dos 167 municípios, apenas 23 não decretaram situação de emergência;
(Figura 10 - Agricultor entristecido com a situação)
- Algumas cidades estão sendo abastecidas, apenas, por carros-pipa;
(Figura
11 - Abastecimento através de carros-pipa)
- 40% do rebanho bovino do Oeste potiguar já foi dizimado em decorrência da seca;
(Figura
12 - As carcaças adornam o tórrido solo nordestino)
- Seriam necessários 10 anos de bom inverno para a recuperação dos prejuízos (depoimento de agricultor);
(Figura
13 - As lavouras foram perdidas)
- Acumulação de dívidas dos agricultores;
(Figura
14 - Os agricultores endividados para a manutenção de seus rebanhos)
- Em algumas regiões houve 100% de abandono das abelhas apis;
(Figura
15 - Abandono das abelhas)
- A maioria dos reservatórios já secou ou estão com suas capacidades reduzidas;
(Figura
16 - Reservatório seco)
- Queda de 2,5 a 3,5 bilhões no PIB estadual (estimativas da Secretaria de Agricultura);
(Figura
17 - Elevam-se os prejuízos com a perca das lavouras)
- 878 mil bovinos, 396 mil caprinos, 546 mil ovinos e 161 mil suínos serão afetados pela seca até abril (dados da EMATER-RN).
(Figura
18 - Essa é a mobília da Caatinga em períodos de seca intensa)
A
seca no Nordeste não constitui uma fatalidade, pois, como mencionado em linhas
anteriores, as soluções existem, apenas são ocultadas por aqueles que se
beneficiam da indústria da seca. Até quando vamos permanecer na clausura
dos discursos políticos - (‘sensibilizados, solidários’?) comum nesse período,
frente à necessidade de políticas de convivência com a seca e a criação de ações
emergenciais.
(Figura
19 - Enquanto os políticos apenas discursam...???)
A
população mergulhada nas agruras da seca se socorre das preces estendidas a São
José e Nossa Senhora...
(Figura
20 – Tirei esta fotografia em uma propriedade no município de São Tomé/RN)
Respaldada na esperança que o Divino Criador
possa intervir e amenizar a amargura e encher de vida o Sertão com o retorno
das chuvas. Quando estas reaparecem, os discursos silenciam e os projetos, mais
uma vez, serão engavetados, como o projeto da construção da barragem de
Oiticica na cidade de Jucurutu No Rio Grande do Norte, que aguarda deliberação
desde a década de 1950 (- É BRICADEIRA!!!!!!!!!).
(Figura 21 - As obras continuam paradas aguardando sair do papel)
(Figura
22 - Cadê os nossos representantes?)
Depois
de dois anos consecutivos convivendo com os dissabores da seca, o homem do
campo pôde sorrir, diante de cada broto de feijão e ou milho que nasce depois
das primeiras chuvas que caem no mês de abril.
(Figura
23 - Tita exibindo com alegria a melancia do seu roçado)
(Figura
24 - Lavoura de milho do amigo Tita)
(Figura
25 - Flor de Marmeleiro)
(Figura
26 - Flor de Algodão Mocó)
(Figura
27 - As abelhas vão crescendo)
(Figura
28 - Divisão de abelha Jandaíra)
Foram consultados artigos, jornais, documentários e a algumas imagens da internet para a organização do texto.
Um
grande abraço,
São
Paulo do Potengi/RN, em 07 de maio de 2013.
João
Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário
Campos Verdes
Meu amigo João Paulo!!
ResponderExcluirParabéns pela bela postagem!!
Infelizmente a Paraíba continua sofrendo com a estiagem...E como a época do ano está desfavorável, dificilmente ainda teremos chuva esse ano.E a situação só piora,pois a maioria dos municípios paraibanos estão em estado de alerta,devido aos baixos níveis do reservatório...
E os governantes nada fazem,só vemos propagandas enganosas,pagas com o dinheiro público...
Grande abraço!
Paulo Romero.
Meliponário Braz.
Caro Paulo Romero,
ResponderExcluirMuito grato.
Realmente, os agravantes da seca tem tirado o brilho do olhar do homem do campo.
Ainda alimentamos a fé e a esperança de um dia vermos nossos campos verdejantes, nossos animais fartos e as nossas abelhinhas fazendo mel.
João Paulo
A CHUVA NOS DEVOLVEU
ResponderExcluirTUDO QUE A SECA LEVOU
I
Menino pulando na lama
em desmedida euforia
casal vibra de alegria
se esquentando na cama
tambor na bica derrama
é o inverno que chegou
o barreiro transbordou
barragem, açude encheu
a chuva nos devolveu
tudo que a seca levou
II
Lençol de grama escondendo
ossada de animal
a rama do juremal
o gado já ta comendo
a seca que tava ardendo
chute na bunda levou
a chuva lhe expulsou
a fome aqui já morreu
a chuva nos devolveu
tudo que a seca levou
III
Ouço na mata uma festa
é sinfonia da passarada
como uma orquestra animada
ecoando na floresta
variedade como esta
bem-te-vi, sabiá assobiou
bigode, azulão, concriz pintou
campina, sanhaçu, pedrês nasceu
a chuva nos devolveu
tudo que a seca levou
IV
Um cachorro acuando
a morada do preá
e no pé de trapiá
um tinbú se entocando
camaleão camuflando
com medo do predador
raposa na mata entrou
tejuaçú se escondeu
a chuva nos devolveu
tudo que a seca levou
V
Vejo a florada formosa
no galho da catingueira
mororó, marmeleiro,quixabeira
cumaru, juazeiro, amorosa
mofumbo, jucázeiro, pau rosa
feijão brabo, urtiga branca brotou
a abelha o pólen já coletou
um jardim na mata floresceu
a chuva nos devolveu
tudo que a seca levou
VI
Um capote no chiqueiro
Um peru fazendo roda
Pavão inventando moda
Ganso vigia o terreiro
Galo canta no puleiro
Pato no lago nadou
Galinha anunciou
Que o ovo já desceu
a chuva nos devolveu
tudo que a seca levou
Isaias Eduardo