terça-feira, 7 de maio de 2013

Entre flores e espinhos: o calvário da seca e a volta das chuvas ao Rio Grande do Norte

Dentre os inúmeros fatores que acometem a região Nordeste, a seca pode ser apontada como um dos principais. Além de ser atribuída à adversidade climática, trata-se de uma circunstância que desencadeia objeções sociais para as pessoas que habitam a região. Esta, diz respeito a um fenômeno natural caracterizado pelo atraso na precipitação de chuvas ou a sua distribuição de forma irregular. A falta de água torna-se um agravante, na medida em que inviabiliza atividades como a agricultura e/ou agropecuária. Sendo assim, a escassez de chuvas ocasiona, sobretudo, a carência de recursos econômicos gerando fome e miséria no sertão nordestino, uma vez que, significativo contingente populacional que habita a região, vive verdadeiramente em condições de pobreza extrema.

(Figura 1 - Por onde as políticas passam despercebidas)

A seca pode ser compreendida a partir de aspectos diferenciados, a depender do índice de precipitações pluviométricas. Ou seja, quando a quantidade de chuvas durante o ano não é suficiente para o desenvolvimento das plantações, esta pode ser considerada Seca Absoluta. Por outro lado, quando as chuvas são suficientes apenas para revestir de folhas a vegetação da Caatinga, ou mesmo, acumular pequena quantidade de água nos reservatórios, mas não favorecem a normalidade das lavouras, estamos falando de Seca Verde.

(Figura 2 - Seca absoluta)

(Figura 3 - Seca verde)
É bastante comum associarmos seca a fenômenos climáticos. Pode-se afirmar que esta concepção encontra-se, hoje, reformulada, pois já existem mecanismos tecnológicos capazes de garantir o sucesso de atividades agropecuárias em regiões de clima semiárido. Portanto, parte-se da premissa que a seca no Nordeste brasileiro não constitui um problema da atualidade. Já dizia D. Pedro II, último monarca do Império do Brasil em fins do século XIX que “empenharia até a última joia de sua coroa para que nenhum nordestino morresse em decorrência dos agravantes da seca”. Nessa perspectiva, a seca aqui na região Nordeste envolve fatores não apenas climáticos, mas também, sócio-políticos.

(Figura 4 - Imagem meramente ilustrativa)

Corroborando com esse pensamento, vejamos: o Nordeste possui o maior volume de água represada em regiões semiáridas do mundo. Estima-se em 37 bilhões de metros cúbicos, estocados em cerca de 70 mil represas. Por que é que grande parte da população menos favorecida do Nordeste brasileiro não tem acesso a água se ela existe?

(Figura 5 - Barragem Campo Grande em São Paulo do Potengi no período das chuvas)

Mas existe também a inoperância de políticas eficazes de distribuição desses volumes, que atenda as necessidades básicas dos nordestinos, por sua vez, permanecendo à mercê de ações públicas assistencialistas que, muitas vezes, não fornecem as bases para condições de desenvolvimento nessa região.

(Figura 6 - Cacimbas feitas nos leitos dos rios para se ter acesso a água)

Dados da seca no Rio Grande do Norte


  •  A mais longa seca em décadas (avalia-se a maior dos últimos 50 ou 60 anos);
(Figura 7 - Cenário desolador da seca)


  • 500 mil pessoas afetadas com a falta d’água;
(Figura 8 - Caminho percorrido pelo nordestino em busca de água)
  • 86% dos municípios estão em situação de emergência;
(Figura 9 - A trágica realidade da maioria dos municípios afetados pela seca)

  • Dos 167 municípios, apenas 23 não decretaram situação de emergência;
(Figura 10 - Agricultor entristecido com a situação)
  • Algumas cidades estão sendo abastecidas, apenas, por carros-pipa;
(Figura 11 - Abastecimento através de carros-pipa)


  • 40% do rebanho bovino do Oeste potiguar já foi dizimado em decorrência da seca;
(Figura 12 - As carcaças adornam o tórrido solo nordestino)


  • Seriam necessários 10 anos de bom inverno para a recuperação dos prejuízos (depoimento de agricultor);
(Figura 13 - As lavouras foram perdidas)


  • Acumulação de dívidas dos agricultores;
(Figura 14 - Os agricultores endividados para a manutenção de seus rebanhos)


  • Em algumas regiões houve 100% de abandono das abelhas apis;
(Figura 15 - Abandono das abelhas)


  • A maioria dos reservatórios já secou ou estão com suas capacidades reduzidas;
(Figura 16 - Reservatório seco)


  • Queda de 2,5 a 3,5 bilhões no PIB estadual (estimativas da Secretaria de Agricultura);
(Figura 17 - Elevam-se os prejuízos com a perca das lavouras)

  • 878 mil bovinos, 396 mil caprinos, 546 mil ovinos e 161 mil suínos serão afetados pela seca até abril (dados da EMATER-RN).
(Figura 18 - Essa é a mobília da Caatinga em períodos de seca intensa)

A seca no Nordeste não constitui uma fatalidade, pois, como mencionado em linhas anteriores, as soluções existem, apenas são ocultadas por aqueles que se beneficiam da indústria da seca. Até quando vamos permanecer na clausura dos discursos políticos - (‘sensibilizados, solidários’?) comum nesse período, frente à necessidade de políticas de convivência com a seca e a criação de ações emergenciais.

(Figura 19 - Enquanto os políticos apenas discursam...???)

A população mergulhada nas agruras da seca se socorre das preces estendidas a São José e Nossa Senhora...  

(Figura 20 – Tirei esta fotografia em uma propriedade no município de São Tomé/RN)

Respaldada na esperança que o Divino Criador possa intervir e amenizar a amargura e encher de vida o Sertão com o retorno das chuvas. Quando estas reaparecem, os discursos silenciam e os projetos, mais uma vez, serão engavetados, como o projeto da construção da barragem de Oiticica na cidade de Jucurutu No Rio Grande do Norte, que aguarda deliberação desde a década de 1950 (- É BRICADEIRA!!!!!!!!!).
 
(Figura 21 - As obras continuam paradas aguardando sair do papel)

Portanto, nobres colegas, o calvário das secas é espelho da inoperância, da má vontade, dos processos burocráticos, da má gestão do dinheiro público, da nossa alienação...

(Figura 22 - Cadê os nossos representantes?)

Depois de dois anos consecutivos convivendo com os dissabores da seca, o homem do campo pôde sorrir, diante de cada broto de feijão e ou milho que nasce depois das primeiras chuvas que caem no mês de abril.

(Figura 23 - Tita exibindo com alegria a melancia do seu roçado)

(Figura 24 - Lavoura de milho do amigo Tita)

(Figura 25 - Flor de Marmeleiro)

(Figura 26 - Flor de Algodão Mocó)

(Figura 27 - As abelhas vão crescendo)

(Figura 28 - Divisão de abelha Jandaíra)

A angústia e a desconsolação que outrora residia em seu peito deu lugar a um misto de satisfação e alegria, alimentando a certeza de que a fartura voltará à mesa e que os animais não passarão mais fome ou sede.

Foram consultados artigos, jornais, documentários e a algumas imagens da internet para a organização do texto.     



Um grande abraço,

São Paulo do Potengi/RN, em 07 de maio de 2013.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes
  

3 comentários:

  1. Meu amigo João Paulo!!

    Parabéns pela bela postagem!!

    Infelizmente a Paraíba continua sofrendo com a estiagem...E como a época do ano está desfavorável, dificilmente ainda teremos chuva esse ano.E a situação só piora,pois a maioria dos municípios paraibanos estão em estado de alerta,devido aos baixos níveis do reservatório...
    E os governantes nada fazem,só vemos propagandas enganosas,pagas com o dinheiro público...

    Grande abraço!
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.

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  2. Caro Paulo Romero,

    Muito grato.

    Realmente, os agravantes da seca tem tirado o brilho do olhar do homem do campo.

    Ainda alimentamos a fé e a esperança de um dia vermos nossos campos verdejantes, nossos animais fartos e as nossas abelhinhas fazendo mel.

    João Paulo

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  3. A CHUVA NOS DEVOLVEU
    TUDO QUE A SECA LEVOU

    I
    Menino pulando na lama
    em desmedida euforia
    casal vibra de alegria
    se esquentando na cama
    tambor na bica derrama
    é o inverno que chegou
    o barreiro transbordou
    barragem, açude encheu
    a chuva nos devolveu
    tudo que a seca levou

    II
    Lençol de grama escondendo
    ossada de animal
    a rama do juremal
    o gado já ta comendo
    a seca que tava ardendo
    chute na bunda levou
    a chuva lhe expulsou
    a fome aqui já morreu
    a chuva nos devolveu
    tudo que a seca levou

    III
    Ouço na mata uma festa
    é sinfonia da passarada
    como uma orquestra animada
    ecoando na floresta
    variedade como esta
    bem-te-vi, sabiá assobiou
    bigode, azulão, concriz pintou
    campina, sanhaçu, pedrês nasceu
    a chuva nos devolveu
    tudo que a seca levou


    IV
    Um cachorro acuando
    a morada do preá
    e no pé de trapiá
    um tinbú se entocando
    camaleão camuflando
    com medo do predador
    raposa na mata entrou
    tejuaçú se escondeu
    a chuva nos devolveu
    tudo que a seca levou

    V
    Vejo a florada formosa
    no galho da catingueira
    mororó, marmeleiro,quixabeira
    cumaru, juazeiro, amorosa
    mofumbo, jucázeiro, pau rosa
    feijão brabo, urtiga branca brotou
    a abelha o pólen já coletou
    um jardim na mata floresceu
    a chuva nos devolveu
    tudo que a seca levou

    VI
    Um capote no chiqueiro
    Um peru fazendo roda
    Pavão inventando moda
    Ganso vigia o terreiro
    Galo canta no puleiro
    Pato no lago nadou
    Galinha anunciou
    Que o ovo já desceu
    a chuva nos devolveu
    tudo que a seca levou

    Isaias Eduardo

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