Meu
primo Isaias me mandou um comentário no blog em forma de cordel, com o seguinte
mote: A chuva nos devolveu tudo que a
seca levou. Resolvi, então, respondê-lo da mesma forma.
Segue, inicialmente, seus versos:
(Figura 1 - Retratos do cordel)
Menino
pulando na lama
Em
desmedida euforia,
Casal
vibra de alegria
Esquentando-se
na cama.
Tambor
na bica derrama,
É
o inverno que chegou.
O
barreiro transbordou,
Barragem,
açude encheu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
Lençol
de grama escondendo
Ossada
de animal.
A
rama do juremal
O
gado já tá comendo.
A
seca que estava ardendo
Chute
na bunda levou,
A
chuva lhe expulsou,
A
fome aqui já morreu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
Ouço
na mata uma festa
É
sinfonia da passarada,
Como
uma orquestra animada,
Ecoando
na floresta
Variedade
como esta,
Bem-te-vi,
Sabiá assobiou,
Bigode,
Azulão, Concriz pintou,
Campina,
Sanhaçu, Pedrês nasceu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
O
cachorro acuando
A
morada do Preá
E
no pé de Trapiá
Um
Timbu se entocando,
Camaleão
camuflando
Com
medo do predador,
Raposa
na mata entrou,
Tejuaçu
se escondeu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
Vejo
a florada formosa
No
galho da Catingueira,
Mororó,
Marmeleiro, Quixabeira,
Cumaru,
Juazeiro, Amorosa,
Mofumbo,
Jucazeiro, Pau-rosa,
Feijao
brabo, Urtiga branca brotou.
A
abelha o pólen já coletou.
Um
jardim na mata floresceu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
Um
capote no chiqueiro.
Um
peru fazendo roda.
Pavão
inventando moda.
Ganso
vigia o terreiro.
Galo
canta no poleiro.
Pato
no lago nadou.
Galinha
anunciou
Que
o ovo já desceu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
Isaias
Eduardo
(Resposta)
Pelas
veredas do cordel
E
na pisada do verso,
Encontro-me
aqui imerso
Em
desafio de menestrel,
Escrevendo
num papel
Aquilo
que da mente ecoou,
Sobre
a esperança que voltou,
Por
que a oração valeu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
O
agricultor faz louvação
Às
orações atendidas,
As
noites indormidas
Com
tamanha preocupação.
Seu
rebanho sem ração,
Pois
o pasto já secou.
A
dívida do banco aumentou
Por
que o dinheiro não deu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
O
João de Barro faz seu ninho
Com
esterco e terra molhada,
A
Formiga faz morada
Adornando
seu caminho.
Aquilo
que era espinho
Em
vida se transformou.
O
grão de milho germinou,
A
Caatinga enverdeceu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
O
sol de uma manhã orvalhada
Clareando
o pé de imbuzeiro.
Vem
a fruta do Facheiro
Alimentando
a passarada.
O
cheiro da terra molhada
Por
essas bandas regressou.
No
chão a lavoura brotou,
De
alegria o peito encheu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
Busca
a flor a Jandaíra
Na
manhã ensolarada.
Colhe
o pólen a Rajada,
De
flor em flor retira.
Vai
crescendo a Cupira,
O
Remela enxameou,
Uruçu
a entrada enfeitou,
O
Mosquito o pote encheu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
A
chuva traz felicidade
E
vida para o Sertão,
Representa
o brasão,
Traz
também serenidade,
Para
o campo e a cidade
A
alegria retornou.
O
homem do campo louvou,
O
brilho no olhar apareceu.
A chuva nos devolveu
Tudo que a seca levou.
Um
grande abraço,
São Paulo do Potengi/RN, em 20 de maio de 2013.
João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes