Caros leitores, amásios da natureza, em especial do mundo das abelhas segue mais um relato onde procura-se tracejar de forma simplória, um panorama destacando as experiências vividas quando tive o primeiro contato com estes seres, passando pelas fases de iniciação na Apicultura e Meliponicultura, suas idas e vindas ao longo de 6 anos.
Desta vez, a Apicultura insere-se nesse contexto, pois foi a partir desta que se deu a minha aproximação com as abelhas, muito embora, meu avô possuísse alguns cortiços de Jandaíra postos sob a sombra de uma frondosa Algaroba, pouco se falava em Jandaíra como referência a abelhas nativas e, menos ainda me despertara a curiosidade em saber o por quê que uma tinha ferrão e a outra não. Partindo de um senso comum, este entendimento parece um tanto quanto complexo para uma criança de 9 ou 10 anos que, ainda não consegue articular ou desenvolver sua criticidade – isso, no meu caso.
Quando criança sempre ouvia meu avô falar em abelhas. Porém, o que me vinha a cabeça eram sempre as abelhas do gênero apis, a italiana ou “oropa” como era chamada e ainda o é nos dias de hoje. E isto é uma realidade ainda presente no imaginário de muitas pessoas, pois como não associar a palavra abelhas a ferroadas, a grande produção de mel? Costumeiramente escutava meu avô contar “em tal abelha em canto fulano de tal tirei uma lata de mel... levei umas poucas ferroadas... quase corri”.
(Figura 1 – Abelha africanizada alojada em loca de pedra)
O interessante é que meu avô procurava sempre as abelhas que se encontravam bem alojadas, como por exemplo, as que nidificavam em ambientes como: locas de pedra, moita de aveloz, casas abandonadas. Essas abelhas por encontrarem-se bem acomodadas, quando era no período de grandes floradas facilmente se tiraria de 10 litros em diante, chegando-se algumas vezes a 20 como relatou-me outro dia. Isto acontecia antigamente quando havia muitas matas, vegetação nativa onde as abelhas encontrariam néctar em abundância, hoje a nossa caatinga encontra-se extremamente debilitada e reduzida em decorrência do seu uso indiscriminado.
Outro ponto importante é que meu avô mesmo sem o domínio e/ou o conhecimento mais apurado sobre técnicas apícolas, ele sempre quando realizava a colheita de mel em enxames naturais deixava intactas as capas (favos) em que nelas eram depositadas a criação. Isso fazia com que, muitas vezes, as abelhas permanecessem no mesmo local, sendo possível a retirada de mel no ano seguinte.
Um fato que é oportuno destacar foi que, certo dia, eu tinha entre 14 e 15 anos, e meu avô foi informado que havia uma abelha situada em uma cômoda numa casa abandonada, ele rapidamente comunicou ao meu primo e, este por sua vez, me repassou. Então fomos à retirada do mel desta abelha, enfim. Passaram-se uns 5 anos, eu já havia retornado da Escola Agrícola, foi quando resolvi sob aprovação da família e principalmente do meu avô iniciar um projeto de Apicultura. Sendo assim, lembrei-me logo da abelha que havíamos tirado. Chegando ao local deparei-me com um enxame que encontrava-se no mesmo lugar. Coincidência ou não, removemos para uma colmeia, então foi a partir desta que deu início à formação do nosso apiário.
(Figura 2 – Nossa primeira colmeia, em 2005)
Imbuído na ideia de que a Apicultura era a atividade do novo milênio; não era necessário tantos cuidados; retorno financeiro garantido; investimento relativamente baixo, enfim. Demos início ao empreendimento sem termos acesso a linhas de crédito, toda a aquisição de materiais era proveniente de nossas próprias finanças. Traduzindo em miúdos, 2005 não houve colheita; 2006 também não, foram dois anos de seca intensa...
(Figura 3 – A seca em 2005 e 2006 desanimou os apicultores)
Já não tínhamos mais de onde tirarmos recursos, o projeto começou a desandar. Foi a partir daí, desanimados com os precários resultados da Apicultura que iniciamos na Meliponicultura. Aí que o impacto foi ainda maior. Envoltos, também, no pensamento de que encontraríamos um mercado mais abrangente para a comercialização do mel, adquirimos mais de 50 troncos com abelhas Jandaíra.
(Figura 4 – Aquisição de abelhas Jandaíra em troncos)
Quando lembro, me parte o coração, pois imaginem só, árvores centenárias cortadas para a retirada destas abelhas. Catingueiras, Imburanas, Quixabeiras, Pereiros, dentre outras.
E eu só não carrego comigo sentimento de culpa, pois não tinha experiência e nem muito menos noção do que estava fazendo. Apenas fui informado que havia uma pessoa comercializando esses troncos e efetuei a compra. Além desse desrespeito para com a natureza, como eu iria manejar essas abelhas sem saber? Perda na certa! Aí vieram os forídeos, alimentação incorreta... A falta de conhecimento e de uma elaboração de um planejamento contribuíram significativamente para, mais uma vez, o fracasso da atividade.
Foi necessário parar e refletir: onde está o erro? O que é necessário fazer? Vou desistir ou vou me reerguer e prosseguir?
Diante desses avanços e recuos, caminhos e descaminhos, só restava buscar o conhecimento, aprender a lidar com as abelhas, agora não mais enxergá-las como um negócio que pudesse gerar grandes lucros, e sim, como seres de uma sociedade perfeita e organizada e, mais do que isso, seres de uma relevância inumerável para o equilíbrio ambiental.
E assim foi feito, mantive contato com outros apicultores e meliponicultores, tirando as dúvidas; intensifiquei as leituras, pesquisas; passei a acompanhá-las mais de perto, observando-as... E, graças a Deus este ano registramos os melhores índices de produção, venda de mel, de caixas. Tudo isso, fruto de um trabalho em conjunto, de planejamento, de uma gestão participativa - entre a família.
(Figura 5 – Ao lado de minhas adoráveis, observando-as)
(Figura 6 – Mel de Apis do Apiário Ferreira)
(Figura 7 – Mel de Jandaíra)
(Figura 8 – Mel de Rajada)
Este ano, a título de informação foi a primeira vez em 6 anos que a produção (apicultura) atingiu os 50 kg de mel por colmeia;
(Figura 9 – Centrifugação do mel)
já a produção na meliponicultura registramos uma média de 2,5 litros de mel por cortiço, isso nas Jandaíras.
(Figura 10 - Melgueira completa com mel de Jandaíra)
Nas abelhas Rajadas (M. Asilvai) também fizemos colheita e, segundo meu avô há décadas não via mel de Rajada.
(Figura 11 – Melgueira completa com mel de Rajada)
Então nobres colegas, esta é a dica que deixamos - antes de iniciar em qualquer atividade (empreendimento), seja na Apicultura na Meliponicultura, é melhor sentar e elaborar um planejamento, independente de seu objetivo; procurar manter contato com criadores experientes; começar com um número reduzido, ir adquirindo experiência para depois ir aumentando conforme verificação de resultados; criar, inventar, descobrir também são algumas das orientações a que deve-se atentar.
Outro ponto positivo foi meu ingresso, este ano, no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR-AR/RN como instrutor de cursos de apicultura e, aguardo ansiosamente para atuar na elaboração das propostas pedagógicas e como educador de Meliponicultura neste ano que se inicia. A implantação de cursos de capacitação em Meliponicultura pelo SENAR já está sendo cogitada, uma vez que estão surgindo procuras, demandas.
(Figura 12 - Colocação de cera em quadro)
(Figura 13 - Processo de beneficiamento da cera)
(Figura 14 - Turma do curso de Apicultura básica)
Por tanto, só temos é que agradecer por este ano que, foi repleto de realizações e alegrias não apenas para mim, mas para toda a família Apiário Ferreira e Meliponário Campos Vredes.
(Figura 15 – Apiário Ferreira)
(Figura 16 – Meliponário Campos Verdes)
Um grande abraço,
São Paulo do Potengi/RN, em 20 de dezembro de 2011.
João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes