quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O racional e o tradicional: práticas indissociáveis na meliponicultura


Esta semana fomos até a casa do amigo Tita, no Sítio Campo Grande. Suas terras fica há aproximadamente 3 km da cidade e é contornada pelas águas da barragem, esta foi construída em 1980, ou melhor, teve início nesta época, sendo que, a conclusão da obra foi adiantada devido à cheia de 84 que, alagou toda a bacia desta. A barragem de São Paulo do Potengi tem capacidade para armazenamento de 34 milhões de m³ d’água. Foi edificada principalmente para conter as águas do Rio Potengi, pois no período chuvoso avançavam sobre a cidade. Dentre outros motivos, destacamos a perenização do Rio, o abastecimento d’água e a utilização para a agricultura irrigada.

(Figura 1 – Barragem Campo Grande)

O Tita, assim como grande parte dos meliponicultores de nossa região, aprendeu a lidar com essas abelhas, ainda criança, com o seu pai, sendo esta prática bastante comum por aqui. O emprego das técnicas melipônicas são perpassadas ao longo das gerações. No caso do Tita, segundo relato do mesmo, seu avô também tinha o hábito de criar essas abelhas. “O mel retirado só dava para o consumo familiar...” Comentou ainda, da utilização deste para o tratamento de gripes e resfriados.

(Figura 2 – Tita)

A imagem acima mostra o Tita segurando um litro de mel, colhido um pouco antes de nossa chegada, visivelmente satisfeito com a boa safra deste ano, pois já colheu 13 litros. Segundo o mesmo este mel é da florada do Amarra cachorro, uma planta bastante comum em nossa região que, floresce no período das chuvas desaparecendo quando da estiagem. Seu mel é bem claro e tem sabor suave e agradável.  

(Figura 3 – Amarra cachorro – Bromelia sp)

Nobres colegas, antes de prosseguir com o texto, peço-lhes desculpas por essas produções sempre longas e enfadonhas, pois isso se dá em função de minha formação superior – Historiador. (Não que as produções historiográficas sejam tediosas rs rs). Mas é necessário, para a construção da narrativa historiográfica inserir o sujeito no tempo e no espaço.

Sem mais delongas, vamos conhecer algumas das técnicas de manejo utilizadas pelo Tita em sua lida diária com as abelhas Jandaíras.

Quanto à divisão das famílias, não emprega este método. Contudo, ele costuma espalhar nos arredores de casa caixas vazias. Segundo ele, no período da enxameação, muitas vezes acontece de capturar um enxame em alguma dessas caixas.         

(Figura 4 – Abelhas capturadas em 2009)

Nos mostrou ainda, esses enxames perto de sua casa, e afirmou ser filhas de suas abelhas.

(Figura 5 – Abelha Jandaíra em uma Imburana)

(Figura 6 – Abelha Jandaíra em uma Quixabeira)

(Figura 7 – Abelha Jandaíra em uma Pitombeira)

Após a abertura das caixas, faz a vedação com barro, segundo ele para evitar a entrada de insetos.

(Figura 8 – Preparação do barro)

(Figura 9 – Vedação com barro)

Já com relação às ferramentas, utiliza este formão e esse enzope para a retirada do mel, ambos fabricados por ele.

(Figura 10 – Formão e enzope)

Utiliza uma varinha para espantar víboras e lagartixas.

(Figura 11 – Ao fundo, meu pai e o Tita segurando a varinha)

Com relação aos Forídeos, quem os batizou de Borrachudos, habitua soprar o interior das caixas para afugentá-los.

O que me chamou a atenção no Tita foi sua paciência, sua dedicação e organização, mesmo não tendo a seu favor todo um aparato tecnológico de veiculação de informações, com o tempo, ele aprendeu muitas coisas, como por exemplo: as dimensões das caixas; o espaçamento entre os cortiços no meliponário, dentre outras.

(Figura 12 – Disposição das caixas sob o beiral da cocheira)

O que antes tratava-se das instalações para a bovinocultura de leite, hoje abriga dezenas de Jandaíras cuidadas com bastante carinho.

Depois de conversarmos um pouco, me propus a mostrar-lhe como realizar uma divisão. Meio acabrunhado e mostrando-me certo receio e ciúme de suas adoráveis, me perguntou, “mas, não está tarde?”... Ele sempre realiza o manejo entre 5:30 e 7:00 hs. Após mais um dedo de prosa convenci o Tita e, fomos à tarefa:

(Figura 13 – Retirada das crias)

(Figura 14 – Campeiras)

É sempre gratificante esse contato mais direto com o homem do campo, é onde se encontram teoria e prática na construção do conhecimento... O Tita ainda desenvolve outras atividades produtivas como a: fruticultura – cultivo da bananeira; a horticultura – coentro, cebolinha, alface e quiabo e o cultivo do feijão.                    

(Figura 15 - Horticultura)           

(Figura 16 - Fruticultura)        

Muito se fala nos dias de hoje, quando o assunto é meliponicultura, na difusão de técnicas de manejo racionais. Porém, devemos toda gratidão a pessoas como o Tita e tantos outros que, de forma tradicional cultuam a reminiscência de se manejar as abelhas nativas, fortalecendo ainda mais a ideia de que tradicional e racional caminhem inseparavelmente.

Um grande abraço,


São Paulo do Potengi – RN, 04 de agosto de 2011.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

2 comentários:

  1. Meu amigo João Paulo,

    parabéns pela bela postagem.
    Com certeza,todos nós temos muito o que aprender com os "criadores de abelhas",pois eles conseguem muitas vezes,bons resultados,nas suas criações;e tem toda a experiência de uma vida,ao lado dessas abelhas...

    Abraço.
    Paulo Romero.
    meliponário Braz.

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  2. Saudações amigo Paulo Romero,

    Sim, com certeza, temos muito que aprender com essas pessoas que, têm todo um histórico de vida ao lado das abelhas nativas.

    Um abraço meu caro.

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