sábado, 23 de abril de 2011

Passo a passo – como construir um meliponário

Nobres colegas, admiradores da natureza, esta postagem traz passo a passo, numa linguagem simples, assim como todas as postagens deste blog, como construir um meliponário. Já há algum tempo eu vinha pensando na possibilidade de reservar um lugar e um modelo de meliponário apenas para as abelhas Rajadas – (as queridas do meu avô). Este, por sua vez, foi engendrado por mim e batizado pelo meu pai com o nome de: (Meliponário tipo saleiro). Este meliponário apresenta um formato bem parecido com um saleiro, costumeiramente e bastante utilizado nas fazendas da nossa região para a colocação de sal mineral para os rebanhos de bovinos, melhorando o desempenho do animal.
Assim como as demais criações, e não seria diferente com a criação racional de abelhas indígenas, é de fundamental relevância que destinemos um ambiente apropriado para a acomodação dos cortiços, das colônias e/ou das colmeias. Assim como queira chamar. Abrindo um parêntese, eu, particularmente chamo de cortiço, uma em função do meu aprendizado na lida com as abelhas nativas, que se deu ao lado de pessoas como meu avô e meu tio Eduardo que, à sua maneira cuidavam com bastante apreço destas abelhas e sempre chamaram de cortiços. Outra é em virtude do saudoso Pe. Huberto Bruening, um dos precursores e grande incentivador, verdadeiro ícone da meliponicultura em nosso Estado, escritor da única obra que temos acerca da abelha Jandaíra. Ele relata e, com bastante autonomia para isso, que devemos chamar de cortiço ao invés de colmeia. Colmeia é destinada a criação de abelha de ferrão - Africanizada (Apis mellifera).
Para a construção do meliponário devemos levar em consideração uma série de fatores que contribuirão definitivamente para o sucesso da atividade. Estes, os principais, são enumerados a seguir:
1-     
  •       Próximo as floradas, para um bom desenvolvimento dos cortiços;

  •        É preferível que seja construído em um local sombreado; pois o sol pode atrapalhar o desenvolvimento das crias;

  •        Deve-se evitar locais abertos onde o vento possa prejudicar o voo das abelhas;

  •        Que seja construído a uma distância de, pelo menos, 600 a 800 m de apiários, para que não haja concorrência pelas floradas;

  •        De preferência instalar o meliponário a certa distância de estradas, devido à circulação de pessoas, movimentação de veículos, barulho, poluição e etc.;

  •       Que seja próximo a residência para evitar possíveis furtos;

  •       Distante de estábulos, pocilgas, galinheiros, apriscos para que as abelhas não coletem excrementos para utilizarem na construção do ninho;

  •      Que a estrutura que comporta os cortiços fique a uma altura de no mínimo 50 cm do solo para evitar, principalmente, o ataque de sapos.         

(Escolha da área) 

(Limpando o terreno) 

(Marcação da área) 

(Cavando os buracos) 

(Prontos para a colocação das estacas) 

(Reforçando as estacas com cimento) 

(Ao fundo meu avô observando o andamento dos trabalhos) 

 (Preparando os caibros para receber o telhado)

(Ganhando forma)

(Quase pronto)

Obs.: Algumas questões devem ser desconsideradas, ou mesmo, acrescentadas de acordo com as necessidades e/ou disponibilidade de cada um. Como por exemplo: materiais e espaço. Podem ficar a vontade para fazerem algum apontamento que julgarem necessário.

          Na próxima postagem mostraremos como ficou meliponário, além de seus novos moradores).

Um grande abraço.
São Paulo do Potengi-RN, 23 de abril 2011.

João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Meliponário Campos Verdes - Raízes Históricas

Minha vivência com abelhas perpassa por quase todas as etapas do meu desenvolvimento, desde criança até os dias de hoje. Durante a infância, sempre nas férias de junho, ou mesmo ao término das atividades escolares em dezembro, minha mãe arrumava minha bolsa e me mandava para a casa do meu avô, lá no Sítio Deserto no município de Riachuelo interior do Rio Grande do Norte. Meu avô relata que o sítio leva esse nome devido às habitações serem distantes uma das outras - (“uma aqui e outra acolá”) e, principalmente pelo reduzido número de pessoas que se encontram hoje morando no campo. Quando eu lhe perguntei, vô por quais motivos leva o homem do campo a abandonar o sossego da roça e ir morar nas cidades? – ele me respondeu já com o semblante visivelmente abatido: “a meu filho, hoje quase não dá pra se viver da agricultura. Há tempos atrás, nas eras de 50, 60 ganhava-se muito dinheiro com o algodão, aí veio o bicudo e as pessoas foram deixando de produzi-lo; as chuvas foram diminuindo; as terras ficaram desgastadas; as pessoas foram vendendo o gado por não terem mais condições de mantê-los... Aí vai ficando um deserto mesmo”.
Porém, o que ele mais gostava de falar era de suas histórias de caçador; das suas aventuras do tempo de rapaz; da fartura nos tempos de inverno: feijão verde, pamonha, canjica, cuscuz de milho, jerimum caboclo, macaxeira, batata, rolinha assada; do gado gordo descendo a ladeira escramuçando; do riacho da serra que botou cheia e, principalmente das abelhas fazendo mel. Meu avô sempre gostou de abelhas. E era quando ele falava das abelhas que eu mais me aproximava dele, sem saber que o destino me reservava uma das coisas mais aprazíveis que realizo em minha vida. Ele continuamente falava das abelhas nativas. Dizia que – não era necessário ir muito longe, nas proximidades de casa mesmo, nos pés de Catingueira Imburana e Pereiro havia muita abelha.
Ele falava das seguintes espécies: Tubiba, abelha pretinha e muito valente; Cupira tem um mel bastante apreciável; a Jandaíra; a Rajada; o Mosquito Verdadeiro; o Remela; a Moça Branca; a Pimenta; o Zamboque. Hoje, dentre as espécies listadas, encontra-se ainda, com bastante dificuldade nos resquícios de mata da região, o Mosquito, a Jandaíra e a Rajada. Meu avô quando as achava, abria o tronco e retirava o mel até encher a cabaça e levava a cera para utilizá-la ou em pavio de candeeiro ou para tapar os recipientes onde guardava os cereais. Esta prática se repetiu por vários anos.
No imaginário popular do caboclo, estas abelhas quando são encontradas em seu habitat natural e abertas para retirada do mel, elas abandonam a morada e vão à procura de outra. Esta concepção errônea vem contribuindo, ao longo do tempo, para a extinção de muitas espécies de abelhas sem ferrão. Pois, estas abelhas dificilmente, ou quase nunca, (existem poucos relatos sobre isso) abandonarão suas moradias para formarem outras. Um dos motivos mais aparentes é em virtude de sua rainha, esta, após sua fecundação desenvolve consideravelmente a região abdominal, impossibilitando-a de voar. Portanto, “jamais” as operárias desampararão sua soberana.
Voltando a conversa que tínhamos meu Avô e eu, ele dizia que a cada ano que se passava tinha que ir cada vez mais longe para conseguir mel, foi a partir daí que ele começou a trazer os troncos com abelhas para casa. Esses troncos eram geralmente acomodados no poleiro das galinhas ou postos sob a sombra de qualquer árvore nos arredores de casa. Eram conservadas no próprio tronco durante muito tempo, o sol, a chuva aceleravam a deterioração do tronco, ali se instalavam colônias de formigas, baratas e outros insetos, eram também presas fáceis das lagartixas; retirava-se todo o alimento quando da extração do mel, enfim, as abelhas pereciam e, depois chegava alguém e dizia – “essa daqui foi embora”. Como foi embora??? As abelhas sofriam todo tipo de ataque e, de tempos em tempos o mel era removido em épocas inadequadas, quando alguém adoecia de gripe ou inflamação na garganta. Aí vem a reflexão, há abelha que resista ao desmatamento, a ação predatória de meleiros e o manejo incorreto dos cortiços?
Em meio a todo esse contato com a natureza e com a agricultura, me fez nascer um desejo de querer aprender um pouco mais. Foi a partir daí que, no ano de 2000 me submeti ao processo seletivo da Escola Agrícola de Jundiaí. Obtive aprovação, iniciando as atividades em 2001 e concluindo em 2003. Neste período a escola passava por um processo de reforma no ensino. Enfim, não vimos praticamente nada em apicultura. Meliponicultura, nem se falava!!
Em 2005, meu tio João e eu iniciamos uma pequena criação de abelhas de ferrão (apicultura). Só que tínhamos bastante trabalho, os investimentos eram altos, neste período as chuvas foram escassas, as ajudas e incentivos menos ainda. No ano seguinte, já bem desanimado com a atividade, decidi criar abelhas nativas, como? Na Caprifeira de 2006, avistei um rapaz aqui da cidade com uma colônia de Jandaíras, trabalhando tranquilamente em meio à multidão de pessoas que visitavam a feira. Fiquei admirado, e por alguns instantes, permaneci observando e me perguntando, com certeza a criação de Jandaíras não vai me dar tanto trabalho.
No outro dia mesmo, procurei saber quanto custava as caixas, os enxames. Meu avô me doou uma, meu tio Eduardo (um dos grandes sabedores do assunto) me deu outra, comprei algumas e, assim, hoje possuo 80 colônias, dentre estas: a Jandaíra (M. Subnitida), a Rajada (M. Asilvai), o Jati (Leurotrigona) e a Moça Branca (Friesiomelita Doederlein).
Hoje, trabalham diretamente na atividade meu pai e eu, na construção das caixas, instalação dos meliponários e no manejo das colônias. O Meliponário Campos Verdes está localizado no município de Riachuelo-RN, BR 304, a 71 km de Natal (capital), no Aglomerado Rural de São Miguel, Sítio Deserto. Trabalhamos com instalação de meliponários, fornecimento de colônias, de caixas modelo INPA e Nordestina, capacitação e assessoria em Meliponicultuta.


(Casa do meu avô - Sítio Deserto)

(Primeiras colônias)

(Construção do meliponário)

 (Meu avô fiscalizando as obras)

(Construção do meliponário)

(Meliponário pronto)

Um grande abraço.
São Paulo do Potengi-RN, 21 de abril de 2011.

João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

sábado, 16 de abril de 2011

Estande do Mel - XV Caprifeira

Neste último fim de semana, dias 08, 09 e 10 de abril de 2011, realizou-se em São Paulo do Potengi-RN a XV edição da Caprifeira. Exposição de caprinos e ovinos. Um dos maiores eventos agropecuários da Região do Potengi, que movimenta centenas de pessoas todos os anos, grande parte para apreciar a programação cultural: Shows com artistas da terra, mamulengos, repentistas, sanfoneiros, apresentações artísticas dos programas sociais, além, dos parques de diversões, a barraca do tiro, as barracas de lanches, o morre-em-pé (espetinho com uma cachacinha), as atrações com bandas de forró a noite, enfim, toda uma gama de entreterimento para a família.

Em se tratando do evento, a estrutura comporta ainda os currais com as mais variadas raças de caprinos e ovinos, tem o pavilhão para a acomodação dos bovinos, feirão de gado do PRONAF, onde o agricultor efetiva a compra dos animais, julgamento da melhor matriz, com aptidão para leite e/ou corte, o melhor reprodutor; torneio leiteiro, dia de campo nas fazendas do município, oficinas, palestras... O evento conta com o apoio da Secretaria de Agricultura de São Paulo do Potengi-RN e as instituições ligadas ao setor rural, como: EMATER, EMPARN, e IDIARN.

Outro espaço para visitação são os estandes que, possuem toda uma representação cultural de cada município, tem o artesanato, comidas típicas, produtos da agricultura familiar e, em um desses estandes, a convite do amigo André Luís - Extensionista  Rural da EMATER de São Pedro-RN, expus algumas caixas - modelos INPA e Nordestina para a criação racional das abelhas Jandaíra (M. Subnitida), Rajada (M. Asilvai) e Mosquito (Leurotrigona) e, também mel de Jandaíra e Africanizada.

O espaço estava dividido com alguns apicultores da Comunidade Rural Lagoa do Sobrado. E também, com uma simpática senhora que vendia artefatos de barro: panelas, vasos de plantas, potes, chaleiras, etc. Muitas pessoas passaram pelo estande, muita gente querendo iniciar na atividade: Pessoas que estão tendo muito trabalho com as africanas, outras perguntaram se podia levá-las para o apartamento, outras atraídas pela proteção contra lagartixas, outras querendo saber a diferença entre os dois modelos de caixas, ou seja, uma tarde bastante proveitosa, conheci pessoas de outros municípios do Estado, trocamos experiências. E assim, vamos divulgando o trabalho com as abelhas e, aos poucos a Meliponicultura vai ganhando espaço e se fortalecendo.

(Exposição dos produtos)


(Prestando informações)


(Detalhe da caixa de Mosquito com proteção contra lagartixa)


(A esquerda eu e a direita a apicultora Maísa)


Um grande abraço.

São Paulo do Potengi-RN, 16 de abril de 2011.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

Agradecimento

Como primeira postagem deste blog, externalizo meu agradecimento em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida, e pelos sonhos que se concretizam e se tornam realidade mediante nossos esforços. Em segundo, àquelas pessoas que me apoiaram e me auxiliaram e, com seu exemplo de vida contribuíram para minha formação enquanto ser humano. São estes: Meu Avô Dionízio Ferreira, meu Pai Paulo Evangelista, minha Mãe Elza Maria e aos meus irmãos Jonatam Levi e Joatan David. Ao meu primo Fábio Oliveira, idealizador do blog. A minha irmã Mariana (05 anos) com quem fui algumas vezes no meliponário, é certo que tapava as entradas das abelhas com com objetos que encontrava pelo chão, mas foi válido pela curiosidade que demonstrou, pela infinidade de indagações e, principalmente, por mostrar interesse em voltar lá. A minha noiva Déborah, por me ouvir com paciência falar tantas vezes sobre abelhas.

(Olha ela aí já querendo tampar as entradas das abelhas)

Enfim, a todos que de uma forma ou de outra, dão sua contribuição, não a mim, mas em prol da preservação da natureza e das abelhas nativas.

Um grande abraço.

São Paulo do Potengi-RN, 16 de abril de 2011.

João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes