quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Situando abelhas Jandaíras

Desde cedo aprendi a valorizar o contato com os mais experientes, isto é atribuído a minha educação familiar, pois quando criança e ainda é assim nos dias atuais, me sento ao lado do meu avô no alpendre da casa para ouvi-lo falar de suas histórias, acredito que seja desta forma que é repassado o conhecimento (empírico), e por que não, baseado nas tradições pode se chegar ao conhecimento científico? Sendo assim, a cultura é perpassada ao longo das gerações.

Costumo sempre conversar com os antigos criadores de Jandaíra, eles têm muito a nos ensinar, muito embora, a Meliponicultura tenha evoluído significativamente nos últimos anos.

Esta semana fui até a casa do Tita e pude observar algumas situações que, ao meu entendimento, são passíveis de registro. Muitas são as ocasiões em que paro atentamente para ouvi-lo contar suas experiências com as Jandaíras desde os tempos de menino, que aprendera com seu avô, com seu pai, enfim. Apesar de que, para ele, eu sou o estudioso, conhecedor de tudo que se relaciona com abelhas.

Mas não é nada disso, sempre estamos aprendendo algo novo a cada dia com as próprias Jandaíras, e é por demais relevante darmos atenção àquilo que, para a Meliponicultura de hoje, é considerado tradicional. Não devemos desvaler ou mesmo apagar da memória as práticas hoje consideradas tradicionais na Meliponicultura, pois, na verdade, foram os “antigos” criadores que se dedicaram, cuidaram, preservaram, e contribuíram para que a nossa abelha Jandaíra – “Rinha do Sertão” não se encontrasse, hoje, apenas registrada na memória dos “antigos”.

Agora vamos ao assunto ao qual pretende-se abordar. Logo quando cheguei ao meliponário do Tita, ele foi logo mostrando algo curioso de acordo com sua sabença. Uma Jandaíra que se situou no mês de janeiro. Geralmente as abelhas Jandaíras costumam enxamear nos meses em que há abundância de floradas, na humilde visão de um meliponicultor incipiente, uma forma natural das abelhas manterem a espécie, elas ficam durante dias nesse “Forró-bodó” como diria o saudoso Monsenhor Huberto Bruening, na maior agitação, comumente no beiral do meliponário. Acredito, ficam a espera de uma rainha, em seguida, desaparecem como que fossem para sua nova morada.

(Figura 1 – Forró-bodó das Jandaíras)

(Figura 2 – Rainha nova)

Mas o que é situar uma abelha? Situar uma abelha, aqui em nossa região, diga-se de passagem, um termo bastante utilizado pelos “antigos” é, traduzindo em miúdos, capturar uma abelha. Geralmente os “antigos” criadores de Jandaíra como ainda não dominavam a técnica da divisão, par aumentar seus enxames havia dois meios, um era a retirada destas abelhas das matas, preparando o cortiço e em seguida seguindo com este para sua residência; o outro era a captura de abelhas por meio de caixas iscas, caixas que eram espalhadas nas proximidades do meliponário e, vez por outra, se capturava um enxame, o que, muitas vezes, passava-se mais de um ano para acontecer de situar uma abelha. Então situar uma abelha é isso, uma enxame povoar por conta própria uma caixa colocada em algum ponto estratégico.

(Figura 3 – Abelha Jandaíra recém situada)

Fomos de imediato abrindo a caixa, percebemos a presença de uma rainha...

(Figura 4 – Ampliando a imagem dar para visualizar melhor, parte inferior)

Depois procedemos com o manejo de reforço, ofertamos crias, e alimento para que o enxame se desenvolva mais rápido, já que, nesta época do ano não existe floradas em quantidade, dificultando, até mesmo, impossibilitando seu fortalecimento sem nossa intervenção.

(Figura 5 – Preparando alimento e crias)

(Figura 6 – Organizando na caixa)


Um grande abraço,


São Paulo do Potengi/RN, em 15 de fevereiro de 2012.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes

      


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A natureza e seus encantos

Esta semana, em visita ao amigo Tita no Sítio Campo Grande, para mais uma inspeção nas abelhas Jandaíras, uma delas tivemos que deixar para a próxima oportunidade, pois um Sabiá achou de construir seu ninho justamente em cima da caixa, impossibilitando a realização do manejo.

(Figura 1 - Ninho sobre a caixa de Jandaíra)

(Figura 2 - Filhotes)

(Figura 3 - Ninho de Sabiá)

(Figura 4 - Sabiá alimentando os filhotes)

Trata-se exatamente de uma colônia recém formada e, como toda abelha que se encontra neste estágio precisa de muita atenção e manejo correto, para o seu pleno desenvolvimento.

Mas vamos torcer para que ocorra tudo dentro das normalidades, até por que as primeiras chuvas já caíram, sendo bem provável o aparecimento de algumas floradas, permitindo a entrada de néctar e/ou pólen. Sendo assim, a rainha irá acelerar a postura e o enxame pouco a pouco se fortalecerá.

Aproveitando a ocasião o Tita me levou até o ninho do Quero-quero, aqui em nossa região conhecido como Tetéu.

(Figura 5 - Ninho do Tetéu)

Muito embora tenhamos tido uma surpresa, pois ao chegarmos ao local o Tita verificou a presença de apenas um ovo, sendo que havia dois quando da sua última visita ao local. O Tita acredita que, como se trata de uma área destinada à colocação do gado (bovino), algum destes tenha pisado no ninho, pois o único ovo que encontramos estava danificado e não havia nenhum Tetéu de guarda. São aves extremamente defensivas quando alguém se aproxima de sua área de reprodução.

(Figura 6 - Vanellus chilensis)

(Figura 7 - Área destinada a colocação do gado)


Um grande abraço,


São Paulo do Potengi/RN, em 14 de fevereiro de 2012.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes


           

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Visita ao Meliponário do Litoral

Neste fim de semana, 28 / 01 / 2012 fomos até a cidade de Macaíba/RN conhecer o Meliponário do Litoral, de propriedade do amigo Rivan Fernandes.

(Figura 1 – Meliponário para acomodação das abelhas Uruçus)

(Figura 2 – Disposição das caixas de Jandaíras no beiral da casa)

(Figura 3 – Por trás estante com Jandaíras)

(Figura 4 – Meliponário para abelhas Jataís)

(Figura 5 – Suporte individual para abelha Uruçu)

Em primeiro lugar, externamos nossos agradecimentos ao amigo Rivan pela acolhida, pela receptividade prestada para conosco. Sem dúvida, parti do Meliponário Campos Verdes com um “saco amarrado pela boca” (bagagem) de questionamentos sobre diversos assuntos que circundam o meio melipônico e, que ele explicou detalhadamente.

O Meliponário do Rivan que fica em sua residência é um lugar bastante agradável, principalmente para os amantes das abelhas nativas, têm abelhas por toda parte, das menores como é o caso do Mosquito remela, Mosquito verdadeiro, a Jataí (Trigonas) às maiores, como as Jandaíras e Uruçus (Meliponas). O mais interessante o que atraiu nossos olhares foi a abelha conhecida como Canudo verdadeiro...

(Figura 6 –  Entrada do Mosquito remela em tronco de Catingueira)

(Figura 7 – Estrutura do ninho da abelha Jataí)

(Figura 8 – Potes de alimento da abelha Uruçu)

(Figura 9 – Matriz de Jandaíra)

Sua caixa mede 1,5 m, segundo o Rivan esta deve ter as mesmas medidas (espaço) da caixa para a criação de Uruçu. É impressionante a quantidade de crias, de potes de mel e pólen para uma abelha relativamente pequena, não em termos de população que é extensa, mas no tamanho, tendo em vista as características morfológicas das abelhas do gênero Trigona, reconhecidamente menores.


       (Figura 10 – Abelha Canudo verdadeiro, caixa 1,5 m de comprimento)


                                   (Figura 11 – Estrutura do ninho)


                                   (Figura 12 – Potes de mel e pólen)

Falou-nos ainda de sua técnica de divisão de famílias, diga-se de passagem, bem particular. Este método 2/1 consiste na retirada de todo o ninho de uma família, em seguida é depositado na caixa que está sendo formada, após este procedimento doa-se campeiras de outra caixa. Segundo o Rivan a família em que foi retirada o conjunto de crias logo-logo, no momento em que a rainha percebe a ausência destas inicia a postura em ritmo acelerado e, dentro de 15 dias já é possível observar a formação de novos discos.

À caixa “filha” existe criação em todas as etapas de desenvolvimento, o que garantirá, digamos que 100%, o nascimento de uma rainha.

Com relação à introdução de potes de alimento (pólen), ele não os coloca, pois, mais tarde, as abelhas os abrirão, podendo ocorrer infestação de Forídeos, por tanto, é posto apenas mel como reserva alimentar.

A visita ao Meliponário do Litoral foi por demais prazerosa, tivemos a oportunidade de vermos espécies novas, de tirarmos nossas dúvidas, também de expor nossas vivências, vimos o trabalho das abelhas na flor do Mutre, uma ótima alternativa de pasto apícola, muito apreciada pelas abelhas, é uma pena que não dava tempo de fotografá-las.

(Figura 13 – Flor de Mutre)

Enfim, o contato com outros meliponicultores é muito importante, principalmente para nós que somos sempre aprendizes, sempre temos algo a ensinar e, mais ainda a aprender. Infelizmente devido ao avanço do horário, tendo o Padre Simão seus compromissos de sacerdote, tivemos que nos despedir, confesso que queria ficar um pouco mais, teríamos assunto, com certeza, para passarmos o resto da tarde conversando sobre estes seres tão adoráveis.

Ao amigo Rivan o nosso muito obrigado, e outro dia iremos com um pouco mais de tempo.

(Figura 14 – Abelha Jataí em tronco)

(Figura 15 – Ninho de abelha Uruçu verdadeira)

(Figura 16 – Uruçu coletando cerume)


(Figura 17 – Colmeia de Uruçu)

(Figura 18 – Rivan ao lado do seu filho Sávio mostrando uma colmeia de Jandaíra ao meu pai )

(Figura 19 – Enxames novos de Uruçu)

(Figura 20 – Ladeado do Rivan frente ao seu meliponário )


Um grande abraço,


São Paulo do Potengi/RN, em 01 de fevereiro de 2012.


João Paulo Evangelista de Medeiros
Meliponário Campos Verdes